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Casos de gripe aviária H5N1 em humanos crescem nos Estados Unidos, e Canadá detecta o primeiro caso em um adolescente, que está em estado crítico.
O que está acontecendo? Seriam esses os sinais de uma nova pandemia?
Hoje iremos te explicar tudo sobre esse surto de gripe aviária que está preocupando as autoridades de saúde do mundo todo.
- Como se pega e como você pode se proteger dessa doença?
- O que o Brasil precisa fazer para não sermos vítima do H5N1?
Nosso objetivo não é gerar pânico desnecessário. Diante dessa escalada dos casos sentimos a necessidade de compartilhar o que de fato está acontecendo no mundo.
Mas antes de te contar como o surto chegou onde chegou, precisamos lhe explicar o que um vírus tem que ter para se tornar uma pandemia.
Apesar do coronavírus estar mais fresco na memória, são os vírus da gripe Influenza que sempre preocuparam mais.
Em 1918, um vírus Influenza H1N1, que provavelmente veio de aves, causa mais de 50 milhões de mortes na pandemia de gripe espanhola.
Em 1957, um vírus H2N2 originário também de aves causa uma pandemia que começa na Ásia, se espalha pelo mundo, matando 1,1 milhão de pessoas.
Em 1968, pandemia de H3N2 começando em Hong Kong, com registro de 1 milhão de mortos.
E em 2009, mais um Influenza H1N1 originado de porcos, leva a uma pandemia que matou pelo menos 150 mil pessoas.
- Baseado no que aconteceu no passado, a ciência já sabe que para um vírus causar uma pandemia, ele precisa atender a 3 critérios:
1º Ele tem que infectar animais não humanos, como porcos, vacas ou aves.
2º Ele tem que saltar desses animais para humanos.
3º Ele tem que ser transmitido de um humano para outro humano.
Todas as vezes que um vírus Influenza causou uma pandemia, ele passou por esse processo. Já infectava algum animal na natureza, como uma ave, um porco ou um cavalo, adquiriu mutações que permitiram com que ele nos infectasse, conseguiu se sustentar no nosso corpo e depois foi transmitido entre pessoas.
- Será que o vírus da gripe aviária H5N1 que circula hoje em dia atende a esses critérios? Ou melhor, será que já estamos vivenciando o início de uma nova pandemia?
O vírus H5N1 foi detectado pela primeira vez em 1996 em gansos domésticos na China. Esse fato disparou um alerta na comunidade de saúde internacional. Era uma nova combinação de vírus de gripe aviária, diferente dos conhecidos até então.
O vírus tinha mutado de novo. O H5N1 se destacou porque causava doença grave em aves, sendo classificado como altamente patogênico.
Isso significa que, além de se espalhar rapidamente, o vírus podia dizimar criações inteiras de aves em questão de dias, o que por si só, já era um grande problema econômico.
Mas, o verdadeiro choque veio menos de um ano depois, em 1997, quando o H5N1 foi identificado pela primeira vez em humanos durante um surto em criadores de aves em Hong Kong. Dezoito pessoas foram infectadas, e 6 morreram. Essa foi a primeira vez que o H5N1 conseguiu saltar diretamente para humanos.
Mas depois do surto, ele quase desapareceu. Foi só em 2003 que ele foi novamente detectado em aves selvagens e causou surtos em humanos em 8 países asiáticos. Desde então, o H5N1 vem causando pequenos surtos locais, sempre pegando criadores de aves.
O grande problema é a sua letalidade, acima dos 50% até o fim de 2019, foram 861 casos registrados e 455 mortes, em 17 países diferentes.
Eis que ainda em 2020, o que parecia algo restrito às granjas, começou a escalar pelo mundo.
Provavelmente espalhado por aves migratórias, o vírus H5N1 foi detectado em diversos países europeus e em várias espécies de mamíferos selvagens, como raposas, focas, leões marinhos e ursos.
Em 2023, quando 600 leões marinhos foram encontrados mortos no Peru e mais casos foram detectados em humanos. Alguma mutação permitiu com que ele infectasse mais facilmente mamíferos, incluindo o ser humano. Ou seja, o H5N1 já tinha dois critérios para iniciar uma pandemia. Até que em 2024, algo mais preocupante aconteceu.
No começo do ano, o vírus foi identificado em vacas nos Estados Unidos e um criador de gado foi infectado. Até novembro de 2024, 508 fazendas tiveram animais infectados em 15 estados americanos e 52 pessoas doentes pelo país, sendo que uma delas, não teve contato com nenhum animal.
Também em novembro de 2024, outro caso de um adolescente que não teve nenhum contato com aves ou vaca foi detectado no Canadá.
Historicamente, do início de 2003 a 12 de dezembro de 2024, 954 casos humanos de influenza aviária A(H5N1), incluindo 464 mortes (letalidade de 48,6%), foram notificados à Organização Mundial da Saúde (OMS) em 24 países em nível global.
Como se não bastasse, o vírus adquiriu mutações que facilitam a transmissão entre humanos. É nesse ponto que estamos hoje.
- Será que o vírus que foi transmitido para essas pessoas veio de um ser humano?
- Teria o vírus Influenza H5N1 cumprido o terceiro critério, e o que estamos vendo já é o início de uma pandemia?
Existem três principais cenários que os especialistas em vírus estão trabalhando: um otimista, um pessimista, e um neste meio termo;
O cenário otimista acredita que o vírus não se transmite de humano a humano. Pode ser que esse seja só mais um dos muitos surtos de H5N1 que aconteceram no passado.
Criadores de vacas se infectaram porque passam muito tempo com os animais e então é normal ter troca de vírus entre eles.
E as pessoas que dizem não ter tido contato com animais só não se lembram desse contato ou realmente não foi um contato direto. Talvez eles só tiveram contato com algum produto ou superfície contaminada com o vírus, que veio das fazendas.
Um outro ponto que favorece a ideia de que o vírus não adquiriu a capacidade de se transmitir entre humanos é que nenhum familiar desse adolescente do Canadá ou do paciente dos Estados Unidos apresentou sintomas de gripe até agora. Os especialistas dizem que se o vírus estivesse se espalhando entre humanos, já teríamos surtos maiores.
Por outro lado, o cenário pessimista acredita que o vírus já adquiriu essa capacidade de se transmitir entre humanos e que vários casos estão passando despercebidos. A existência de mais de um caso em humanos sem contato com animais é parecido com o que aconteceu com a gripe suína H1N1 em 2009, quando 2 crianças também apareceram doentes nos Estados Unidos. Elas não tiveram contato com porcos nem contato uma com a outra e foram os primeiros pacientes da pandemia de 2009.
Mas existe um cenário no meio, que fala que o vírus não está sendo transmitido entre humanos AINDA, mas é questão de tempo para acontecer. E aparentemente, esse é o mais provável.
Isso porque nós temos o vírus da gripe aviária infectando gado, um mamífero muito mais parecido biologicamente com o ser humano do que uma ave e que convive conosco. Isso significa que o contato do ser humano com o vírus vai aumentar ainda mais.
E o ponto chave que os especialistas estão preocupados é que os Estados Unidos no inverno, entraram na temporada de gripe comum, em que mais de um tipo de vírus da gripe circula: a gripe humana comum e a gripe aviária H5N1.
Se esses dois vírus se encontrarem no corpo de uma pessoa infectada pelos dois, pode acontecer o que os cientistas chamam de recombinação genética. Um fenômeno que é, inclusive, comum e faz parte da evolução dos vírus Influenza.
O H5N1 e o vírus da gripe humana podem trocar material genético entre si, e pode surgir uma nova versão do vírus que combine a alta letalidade do H5N1 com a capacidade de transmissão eficiente da gripe humana. Ou seja, apesar de o CDC (Centers for Disease Control and Prevention), a maior autoridade de saúde dos Estados Unidos, apontam que o risco para a saúde pública ainda é baixo, mas essa combinação poderia dar origem a um vírus com potencial pandêmico, difícil de conter e para o qual a população teria pouca ou nenhuma imunidade.
Existem estratégias para evitar que isso escale ainda mais. O Brasil e outros países precisam fazer, mas mais do que isso: como não pegar a gripe aviária? Tem vacina? Precisamos nos preocupar?
No Brasil, até novembro de 2024, nenhum caso em humano foi detectado ainda. Mas o vírus já foi identificado em aves selvagens que chegaram nas nossas praias e em algumas criações de aves. Se o surto continuar pelo mundo, é questão de tempo até detectarmos algum caso humano no Brasil, provavelmente entre criadores de animais. Mas enquanto não tivermos a confirmação de que é possível o vírus se transmitir entre humanos, não é há razão para preocupação individual. O vírus da gripe aviária é transmitido exatamente como o vírus da gripe comum, através de saliva e contato com secreções em superfícies. Se você não for um criador de animais, não há necessidade neste momento de aumentar a limpeza de superfícies, passar álcool gel nas mãos e objetos ou até usar máscara.
Apesar de ser extremamente improvável, a testagem é que vai nos dizer se o vírus está circulando no Brasil. A ação mais importante que você pode tomar neste momento para se proteger é se vacinar com a vacina da gripe que está disponível. Isso mesmo. Apesar de não existir uma vacina específica para o H5N1 ainda, ao se vacinar, você tem dois ganhos:
- A possibilidade de produzir anticorpos que combatam, pelo menos em parte, o vírus H5N1
- Evitar que o vírus da gripe humana esteja em você, reduzindo o risco daquela recombinação genética que falamos acima.
Nos Estados Unidos, epicentro o surto de 2024, em janeiro de 2023, os Estados Unidos já sofriam com um surto histórico que fez o preço da dúzia de ovos saltar de um $1,50 para 5 dólares em um ano.
Na Austrália, o preço dos ovos quase dobrou em 2024. E na Europa, vários países como Áustria, França e Polônia estão em alerta máximo. 1,7 milhão de aves morreram ou foram abatidas no mundo só em outubro de 2024.
E como vemos o surto continuar, mesmo que restrito aos animais, estamos vendo o aumento dos preços da carne, dos ovos e do leite. E a situação não é nada tranquila para os gestores de saúde.
O CDC americano (Centers for Disease Control and Prevention) aumentou a testagem em animais, pessoas e na água de esgoto para identificar mais rápido a origem dos surtos. É o que todos os países do mundo que identificarem casos deveriam fazer.
O Brasil, por ser um dos maiores produtores de carne do mundo, faz uma excelente vigilância dos animais. Inclusive, já tem um programa de monitoramento de H5N1 implementado desde o primeiro caso detectado por aqui. Mas não encontramos nesse programa algum tipo de testagem em águas de esgoto. Além disso, é necessário que não apenas os criadores de animais, mas os profissionais de saúde, se você é profissional você tem que saber que o vírus está circulando pelo mundo, para você fazer o diagnóstico correto.
Qualquer sintoma de gripe influenza, ele precisa ser testado pra ver se é o Influenza comum ou se é o H5N1.
Para você que chegou até aqui, o mais importante é manter a calma e se informar em fontes seguras, como a OMS, boletins técnicos do governo, e do ministério da saúde.
Não deixe de se vacinar contra a gripe!
Fontes: Organização Panamericana de Saúde, OMS (Organização Mundial da Saúde).
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